Comissão Lancet Busca Uma Definição Mais Clara De Obesidade

Comissão Lancet Busca Uma Definição Mais Clara De Obesidade

Comissão Lancet Busca Uma Definição Mais Clara De Obesidade

Medscape Medical News

01 de Agosto 2024

Embora a obesidade afete mais de 1 bilhão de pessoas no mundo todo, de acordo com uma análise global publicada no The Lancet, ela ainda carece de uma “identidade” clara na pesquisa, na percepção social e no setor de saúde. Essa falta de clareza dificulta diagnósticos e tratamentos precisos, ao mesmo tempo em que perpetua o estigma e o preconceito. Especialistas argumentam que a obesidade é uma doença crônica, e não apenas uma condição que leva a outras doenças.

No último Congresso Internacional sobre Obesidade, realizado em São Paulo de 26 a 29 de junho, a Comissão Lancet sobre Definição e Diagnóstico de Obesidade Clínica anunciou que está conduzindo um estudo global para criar uma definição clara para obesidade. Essa condição é frequentemente associada erroneamente apenas a escolhas individuais. Ricardo Cohen, MD, PhD, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, São Paulo, Brasil, e um pesquisador-chave no estudo, fez o anúncio. “A definição atual de obesidade é muito ampla e ineficaz para nossas necessidades”, disse Cohen.

Cohen destacou vários desafios decorrentes da falta de uma definição precisa, incluindo confusão entre estratégias de prevenção e tratamento, acesso inadequado a tratamentos baseados em evidências e equívocos sobre obesidade e sua reversibilidade. Ele também destacou a compreensão limitada da complexidade metabólica e biológica da doença. “A sociedade está confortável com o cenário atual porque as pessoas são comumente culpadas por sua obesidade. Isso é evidente na aceitação das chamadas ‘soluções mágicas’, como dietas da moda, e a ideia de que a obesidade é meramente um resultado de comer demais e se exercitar pouco”, disse ele, destacando os danos à saúde mental que essa percepção pode causar.

A dificuldade em definir obesidade decorre de sua classificação comum como um fator de risco em vez de uma doença, disse Cohen. A obesidade atende aos critérios para ser considerada uma doença, como mecanismos fisiopatológicos e etiológicos bem definidos. Dessa forma, a obesidade se assemelha ao Diabetes e aos transtornos depressivos, que são classificados como doenças com base nos mesmos critérios. Essa inconsistência, mantida pelas percepções sociais e pelo setor de saúde, cria confusão. Muitos profissionais ainda não têm uma compreensão clara da obesidade como uma doença.

Essa confusão perpetua o estigma e ignora a função metabólica única em indivíduos. Como resultado, os tratamentos geralmente se concentram na prevenção de doenças secundárias, como Diabetes e hipertensão, em vez de tratar a obesidade em si. Cohen relatou o caso de um paciente com fadiga, dor no joelho e osteólise que não conseguia realizar atividades diárias, mas não recebia os cuidados necessários. “Se ele tivesse Diabetes, ele poderia ter acesso ao tratamento porque o Diabetes é reconhecido como uma doença e precisa ser tratado. Mas como a obesidade não é reconhecida como tal, ele foi mandado para casa.”

Para abordar esses desafios, o estudo da The Lancet Commission, que deve ser publicado este ano, visa estabelecer critérios diagnósticos claros para adultos e crianças. Inspirando-se em disciplinas médicas com critérios diagnósticos bem estabelecidos, como reumatologia e psiquiatria, a pesquisa definiu 18 critérios para adultos e 14 para crianças.

O estudo também redefine os resultados do tratamento, define padrões para remissão clínica da obesidade e propõe recomendações claras para a prática clínica e políticas de saúde pública. O objetivo final, de acordo com Cohen, é transformar o espectro global de tratamento da obesidade e melhorar o acesso aos cuidados necessários. “Nosso plano é reconhecer a obesidade como uma doença para que as políticas de saúde, atitudes sociais e tratamentos a abordem de forma mais eficaz. Essa abordagem também ajudará a reduzir os danos causados pelo estigma e preconceito”, concluiu Cohen.

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