Foi lançado recentemente o documento “Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional no Brasil”, parceria da Organização Pan-Americana de Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) com Ministério da Saúde, Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) e Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD)
A publicação ressalta a importância do controle clínico do Diabetes Gestacional (DMG), as repercussões clínicas no organismo materno e fetal, assim como métodos de tratamento, a fim de prevenir desfechos adversos fetais e neonatais. Traz também sugestões para o seguimento das pacientes no período pós-parto.
Diabetes Gestacional
Confira as principais recomendações do novo protocolo!
1. Terapia Nutricionista
A gestante deve ser encorajada a adotar hábitos alimentares saudáveis. Deve ser estimulada a ingerir pelo menos 2 litros de água (6 a 8 copos) por dia, no intervalo entre as refeições. As refeições devem ser fracionadas ao longo do dia (pelo menos 3 refeições principais e 2 ou 3 lanches saudáveis nos intervalos). Deve-se evitar intervalos maiores do que 3 horas. Isso é particularmente importante para as gestantes em uso de insulina, minimizando, assim, as variações glicêmicas.
Os edulcorantes (aspartame, sucralose, sacarose, xilitol, esteviol, dentre outros) podem ser utilizados em substituição à sacarose, de forma moderada, não ultrapassando 15 gotas/dia ou 6 sachês/dia. As recomendações nutricionais devem ser calculadas individualmente.
2. Atividade Física
Na ausência de complicações médicas e obstétricas ou contraindicações, a prática de atividade física na gestação é segura e desejável. Caminhada, natação, ciclismo (em bicicleta estacionária), exercícios aeróbicos, yoga, pilates e corrida são alguns dos exercícios considerados seguros na gravidez. A prática desses exercícios deve ser sempre supervisionada por profissional habilitado.
Em gestantes com DMG, a atividade física se mostrou benéfica, indicando concentrações de glicemia de jejum e pós-prandiais reduzidas e redução da necessidade de uso de insulina. Além disso, a mudança no estilo de vida da mulher pode persistir após o parto, ajudando na prevenção do Diabetes Tipo 2 e complicações a longo prazo.
3. Controle Glicêmico
Estudos mostram que, o tratamento do DMG, quando acompanhado do monitoramento com HGT (perfil glicêmico), foi associado à redução de desfechos perinatais desfavoráveis como óbito fetal intraútero, tocotraumatismo, macrossomia fetal, taxa de cesariana e pré-eclâmpsia. Esse efeito foi observado tanto em pacientes que usavam insulina quanto as que estavam em tratamento apenas com medidas não farmacológicas.
O método preferencial para avaliação é a automonitorização da glicemia capilar (HGT). A paciente deve ser orientada a realizar o HGT quatro vezes ao dia em diferentes horários (jejum, pré e pós-prandial) e registrar os resultados.
A glicemia de jejum deve se manter abaixo de 95 mg/dL; o HGT pós-prandial, até 140 mg/dL. As gestantes em uso de insulina devem manter a glicemia de jejum acima de 70 mg/dL e pós-prandiais não inferiores a 100 mg/dL. Durante o trabalho de parto e parto, a glicemia capilar deve ser mantida entre 70 e 120mg/dL.
4. Terapia Medicamentosa
A terapia medicamentosa está indicada para as pacientes com DMG que não atingem as metas de controle glicêmico com a terapia não farmacológica (dieta e atividade física). A droga de escolha é a insulina. A dose e o tipo inicial de insulina devem ser estabelecidos com base no perfil de automonitoramento da glicemia capilar. As insulinas de ação intermediária e longa são indicadas para controle das glicemias de jejum e pré-prandiais; as insulinas de ação rápida e ultrarrápida são indicadas para controle das glicemias pós-prandiais.
A Sociedade Brasileira de Diabetes recomenda o cálculo da dose inicial de 0,5 UI/Kg/dia, com ajustes quinzenais até a 30ª semana de gestação e semanalmente após, com base no perfil glicêmico da paciente. A metformina pode ser considerada em monoterapia para pacientes cujo acesso ou adesão à insulina sejam inviáveis, ou como adjuvante nas hiperglicemias graves de difícil controle.
Após o parto e saída da placenta, a resistência à insulina diminui rapidamente e, na maioria dos casos, a medicação deve ser descontinuada. Em alguns casos, o monitoramento da glicemia de jejum, por 24 a 72 h após o parto pode ser realizado para identificar mulheres com hiperglicemia persistente. É necessário realizar o teste oral de tolerância à glicose de 4 a 6 semanas após o parto.
5. Acompanhamento Multidisciplinar
O documento também reforça a importância do acompanhamento multidisciplinar. Ações educativas com a equipe multiprofissional devem fazer parte da assistência pré-natal. Além dos cuidados específicos pela ocasião da gestação, o DMG é visto como uma janela de oportunidade para prevenção do Diabetes Tipo 2.
Referência Bibliográfica:
- Organização Pan-Americana da Saúde. Ministério da Saúde. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Sociedade Brasileira de Diabetes Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional no Brasil. Brasília, DF: OPAS, 2019. 57 p.: il. ISBN: 978-85-94091-12-3
Fonte: Por: Juliana Vasconcelos Gomes – Graduação em Medicina pela Universidade Federal Fluminense Médica Residente em Ginecologia e Obstetrícia no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira – IFF/Fiocruz
portal tiabeth, 23 de novembro de 2019